01 setembro 2009

Nascer de Novo

Degustem cada palavra de um dos mais belos poemas de amor já escritos:


“Nascer: findou o sono das entranhas.
Surge o concreto,
a dor de formas repartidas.
Tão doce era viver
sem alma, no regaço
do cofre maternal, sombrio e cálido.
Agora,
na revelação frontal do dia,
a consciência do limite,
o nervo exposto dos problemas.

Sondamos, inquirimos
sem resposta:
Nada se ajusta, deste lado,
à placidez do outro?
É tudo guerra, dúvida
no exílio?
O incerto e suas lajes
criptográficas?
Viver é torturar-se, consumir-se
à míngua de qualquer razão de vida?”

“Eis que um segundo nascimento,
não adivinhado, sem anúncio,
resgata o sofrimento do primeiro,
e o tempo se redoura.
Amor, este o seu nome.
Amor, a descoberta de sentido
no absurdo de existir.

O real veste nova realidade,
a linguagem encontra seu motivo
até mesmo nos lances de silêncio.
A explicação rompe as nuvens, das águas,
das mais vagas circunstâncias:
não sou eu, sou o outro
que em mim procurava seu destino.
Em outro alguém estou nascendo.

A minha festa,
o meu nascer poreja a cada instante
em cada gesto meu
que se reduz a ser retrato, espelho,
semelhança de gesto alheio
aberto em rosa”.



Se cada pessoa soubesse falar de amor com um pouco da sensibilidade dele, o mundo seria mais apaixonado.




Nenhum comentário:

Postar um comentário