Centro da cidade.
Prédios de média estatura, indecisos entre o creme e o cinza, pintando a cidade. Buzinas, pessoas, um vai e vem quase infinito.
Ela desliza por entre as lojas, olhando vitrines, sem um objetivo certo.
Calçadas cheias, quase nenhum espaço para pensar.
De repente uma voz. Olá.
É ele. Nossa. É ele.
E como uma forte rajada de vento, o coração dispara. Não quer parar.
Para. Por favor. Para coração. Por cinco minutos. Nem que eu pare de respirar. Só não quero morrer de amor.
Mas o que estou dizendo, pensa. Não pode ser. Não estou apaixonada. Não por ele. Não pode realmente ser verdade.
A conversa flui. Nervosa.
Um beijo de cumprimento. Um sorriso. Ah! Que lindo sorriso. Uma voz meiga. Um novo sorriso. Uma lembrança de momentos vividos. Um passado não tão distante.
Mas o que é realmente isso? Sua mente divaga novamente. Como se estivesse em dois lugares ao mesmo tempo, começa a pensar sobre aquele momento enquanto ainda o vive.
Tenta entender o que não tem explicação. Tenta enganar o próprio coração.
A paixão, quando chega, afinal, não pede mesmo licença. Simplesmente entra. Às vezes com pequenos avisos sutis. Às vezes com um disparar intenso de coração.
Pode-se controlar até certo ponto. Depois...Bom, depois ele escreve sua própria história. E então vivemos à deriva de sua vontade, como meros espectadores.
Para coração. Eu suplico. Não quero. Não vou me apaixonar. Não posso. Não devo. Muito menos por ele. Aquele que há um mês me deixou parada na porta, sem saber qual o próximo passo.
Vontade de ultrapassar os limites da pele. Tocá-lo. Fazê-lo parar. Medo de ser ouvida em suas revelações involuntárias.
Ruas ainda cheias. Talvez o mundo tenha parado. Mas agora voltou ao seu ciclo natural.
Estação.
Anda. Ainda pensando. Sonhando. Ou tentando não sonhar. Imagina. Mil situações. Muitas delas não virão a ser realidade. Quem sabe. Ninguém conhece o dia de amanhã.
Não sabe se está radiante ou triste. É a doce confusão que toma conta do coração que se recusa a ouvir a própria voz.
No meio da multidão de fim de tarde pega o trem para casa.
Droga. Droga. Não acredito.
Percebe já no meio do caminho que pegou o trem errado.
Não acredito que confundi o lado. Há quanto tempo isso não me acontecia.
Desce. Atenta atravessa a passarela.
Adentra o trem correto. Ruma. Esquece momentaneamente do acontecido, da conversa, dele.
Chega. Saída da estação. Caminha tranquilamente. Relembra. E seus passos dissolvem-se em meio a tantos outros pensamentos incertos.
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