A mão segura firmemente a maçaneta. O tempo para. O instante que ficará na memória.
Uma força invisível parece impedir qualquer movimento. Ficar é insuportável, sair é inevitável e adiar é em vão.
-Espera...eu...
A porta volta a se fechar. O final se estende alguns minutos mais, como no desfecho de um filme bem elaborado; os protagonistas não saem de cena com facilidade.
- Não diga nada.
As palavras são inúteis. Um grito preso na garganta nunca será dado. O desespero é evitado. Não pensar em nada, é a melhor forma de esconder o sofrimento.
É proibido pensar, é proibido falar do passado, do futuro. Não é recomendável falar do presente. O reino das palavras parece estar fechado temporariamente.
-Seja feliz.
A porta se abre e volta a fechar. Agora muito mais que uma porta os separa.
A maior de todas as forças foi preciso no simples ato de sair do automóvel. Ouve-se o som da partida. O passado começa sua viagem de volta ao ponto que parou, sem saber bem qual.
Pelas ruas da cidade. Ninguém sabe o que pode estar acontecendo. Parada, imóvel sob a luz baixa, incapaz de entrar na nova prisão que a aguarda. Os guardas da solidão esperam ansiosamente o novo hóspede da saudade. Não são todos que querem pagar o preço da liberdade.
Um sussurro:
- Chorar é para os fracos.
Lágrimas não descem, elas choram para dentro e lavam a alma.
Parece impossível existir a palavra felicidade.
Perdidos no templo da desilusão, o caminho de volta perde as pegadas.
Um sono, um sonho, uma noite, um dia ou uma semana não serão suficientes para apagar aquela imagem. O vazio. A herança das palavras nunca ditas. O som do medo. O assustador uivo do recomeço.
Demorará até que percebam o silencioso trabalho que o tempo executa com tanto esmero.
Forte e suave: dá para sentir cada átomo das cenas.
ResponderExcluirgosto muito. apesar de revoltado também. hahah
beijo.