09 dezembro 2010

Medo


Nós, seres humanos, temos medos infundados, incoerentes. Vivemos na sociedade do (in), de inútil. Desde sempre.
Tivemos medo dos primeiros contatos, da comunicação. Então, ficamos aterrorizados frente às novas descobertas, às navegações, novas terras, novos povos.  Rejeitamos a miscigenação, a industrialização, a urbanização, o capital e tudo o que veio com ele.
E o pavor que a sociedade constrói coletivamente, cresce dentro de cada um. Quando pequenos temos medo do novo, do desconhecido. Na infância e na adolescência esse medo some e é substituído por uma enorme necessidade de aceitação, que carrega consigo um medo, também enorme, da solidão. Mais tarde, já acostumados com a ideia de que sozinhos ao mundo viemos e sozinhos voltaremos,  recebemos com grande prazer aquele velho amigo: o medo do desconhecido. Tudo é inovador de mais, moderno de mais, jovem de mais, perigoso, pavoroso, incompreensível. O mundo está perdido.
Tanto medo para tão pouca vida.
Nos envenenamos diariamente dos mais diversos temores, de todas as cores, tamanhos e sabores. Temos medo de ter coragem, medo de pensar no porquê temos medo. E temos pavor de ter medo.
E eis que as coisas todas estão aí, feitas, prontas, existentes. Tudo aconteceu, tudo evoluiu. E a (boa) notícia é que continuará evoluindo. Não importa quanto medo a gente sinta disso.
Isso vale pra você e pra mim. Nascemos, aprendemos a respirar, a andar, a falar. Aprendemos a comer sozinhos e nos aventuramos na escola, passando longas horas da nossa vida longe das aconchegantes asas maternas. Enfrentamos provas, vestibulares, primeiros dias de emprego e últimos dias de emprego. Temos dúvidas. Perdemos amigos, perdemos professores queridos, perdemos parentes, amores. Perdemos tempo. Perdemos o cabelo, a elasticidade, o desejo. E tememos tudo. Tudo o que acontece com muito mais intensidade quando temos medo. Porque fato temido é fato sentido antes mesmo de fato ser.
Então por que e do que temos tanto medo?

(Tudo é muito mais fácil escrito que feito. A verdade é que morri de medo de escrever isso.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário