13 maio 2009

Respostas





Onze e quarenta e nove. As luzes da cidade começam a desaparecer. Tudo está tão quieto, exceto pelo barulho de alguns poucos carros que passam lá embaixo. Duas pessoas isoladas, como ilhas. Nada mais importa. Aos poucos, o prédio a frente dorme, lâmpada após lâmpada. Todos descansam para um novo dia. Exceto duas almas, elas sonham com uma resposta, um acordo, um sinal que as tire do sofrimento.
Corações apertados, disto se alimenta o mundo. Está cheio deles, por toda parte, pessoas sem alternativas, sem soluções, mentes e almas dilaceradas. Era desta forma que se encontravam os corações da noite, infelizes, desalojados, sem um lar, tendo como consolo somente um ao outro e o céu aberto acima de suas cabeças. Tudo estava como sempre esteve; as Três Marias erguiam-se em meio à escuridão e a Estrela Dalva emprestava seu doce brilho, como se trouxesse um recado de Deus aos desconsolados. Tudo, menos dois seres, que mudavam a cada segundo. Nada mais seria como antes.
Deus, o mestre dos céus e da Terra, dono de tudo o que existe, estava lá. Mostrou sua presença por meio de cada sopro de vento, enxugou lágrimas, mostrou caminhos e trouxe uma pergunta para a qual ele mesmo tem a resposta. E apreciou a sinceridade que transbordava de cada poro, de cada canto, de cada palavra dita. Será isso Deus? Será isso amor? Que venham as respostas.
Ao contrário de todos que preferem viver na escuridão de suas vidas sem fé, amor ou escrúpulos; aqueles dois corações sofridos buscavam um guia e aceitavam o sofrimento que lhes foi dado, de peito aberto, apreciando cada sensação deste mistério maravilhoso que é viver. Eles perceberam, juntos, que o Universo tem muito mais a oferecer a quem se abre para as possibilidades e o amor é o mais nobre e o mais raro dos sentimentos dados aos seres humanos. Talvez seja por isso que é, também, o menos apreciado. Apreciado no sentido de vivido, de sentido. Conhecer o amor, estar frente a frente com ele, saber exatamente o que é, mesmo sem ter a certeza de senti-lo, é o maior presente que Deus pode dar.
Muitos querem amar, sem, na verdade, terem jamais sentido o amor verdadeiro. Ouvem músicas de amor, veem casais beijando-se por toda parte, homens com flores que serão levadas para suas namoradas. Todos tentando amar alguém. A verdade é que aquelas flores podem ser tão mortais quanto o amor do homem pela mulher. Tudo é fugaz, tão verdadeiro quanto um pote de ouro no fim do arco-íris. Perceber que o amor verdadeiro acontece tão pouco, torna um coração despedaçado ainda mais dolorido, porém, abre a alma para as tais possibilidades, que o Universo oferece todo o tempo e quase ninguém aproveita, pois estão muito ocupados sendo o que não são, fingindo sentir o que não sentem, perdendo tempo com as pessoas erradas, agradando a quem nunca soube o que é o amor, ou a caridade ou a maravilhosa sensação de sentir Deus como sente-se o primeiro raio de sol no começo de um dia.
O primeiro raio de sol...Finalmente apareceu. A noite começou a tonar-se dia, a cidade a acordar. Todos tinham dormido dentro de suas bolhas rotineiras e suas vidas seriam as mesmas, em mais um dia, após o outro. Viver um dia após o outro, sem nada esperar, sem ter a sensação que que horas passaram-se em segundos, é, na verdade, perder tempo. Eles sabiam: nunca mais seriam os mesmos. Um dia que durará para sempre. Um aperto de mão, uma lágrima e uma decisão. Uma amizade, um amor e um anjo. Um segredo. Eterno.

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