05 julho 2009

E-mail




Ela nunca mais esqueceria daquele dia.

Triste e abatida chegou em casa e lá estava, esperando por ela, um consolo. Um presente inesperado. Uma surpresa divina, especialmente preparada para aplacar a dor daqueles últimos episódios. Ela nem poderia esperar o que estava por vir.
Tremendo, clicou em "abrir" e encontrou dezenas e dezenas de palavras, perfeitamente emaranhadas, formando frases conexas, livres, vivas, pareciam ter acabado de sair do forno. Ainda estavam quentes. Caso fechasse os olhos poderia imaginar como aquele e-mail tinha sido feito: cada palavra sendo digitada rapidamente, sem nenhuma preocupação com o português correto ou a ordem das idéias, apenas pensamentos brotando e formando aquilo que realmente quis ser dito por muito tempo.
Achou maravilhoso a idéia de poder finalmente ter acesso àquela mente confusa e misteriosa. Ajeitou-se na cadeira e começou a ler. Mal podia conter a ansiedade, pulava de frase em frase, como se quisesse adivinhar o conteúdo do próximo parágrafo, desejando que seus olhos fossem mais rápidos que seu raciocínio. Seu inconsciente, porém, encontrava-se em um dilema: havia esperado tanto por aquele momento que não sabia se desejava conhecer o mais rápido possível seu conteúdo ou alongar ao máximo o fim da leitura. Queria que o tempo parasse, mas se isso acontecesse não conseguiria descobrir a real intenção de tudo aquilo.
Precisava de concentração. Tirou os óculos e esfregou os olhos, ao voltá-los para o computador tudo parecia mais nítido. Respirou fundo e recomeçou. A cada segundo seu coração batia mais forte. Como alguém poderia revelar tão exatamente o que ela gostaria de saber e com plena consciência disto? Estremeceu. Logo lágrimas corriam descontroladamente pelo seu rosto, embaçando sua visão. Sentiu raiva dela mesma por não conseguir terminar a leitura sem que as letras se misturassem e parecessem feitas de gel. Foi até o banheiro lavar o rosto.
Na terceira tentativa finalmente conseguiu. Pronto. Tinha lido tudo. Mas sentia que, com o fim daquele e-mail, uma longa história estava apenas começando.


Anos passariam até que voltasse a ler todo o conteúdo novamente. E mais uma vez era um domingo. E novamente estava necessitando de um consolo para a alma. Desta vez, porém, não chorou, apesar de ter os olhos cheios de lágrimas. Não era mais a mesma pessoa. E percebia isto a cada linha que passava. Sua percepção das coisas haviam se modificado enormemente, chegando a modificar o significado daquele e-mail, como se o próprio conteúdo tivesse passado por uma transformação. No entanto, surpreendeu-se com a clareza com que lembrava das palavras, da situação, de todo o contexto que culminou naquele desabafo. Ainda sabia exatamente o que estava escrito e o que viria na próxima frase, os pequenos erros de escrita, a ordem dos assuntos. Em algum lugar dentro de si, algo não tinha envelhecido.
Antes que palavras antigas pudessem provocar estragos maiores, como haviam feito no passado, clicou em "deletar", com a mesma rapidez com que tinha feito o mesmo movimento anos atrás para "abrir". Não havia mais tempo para perder. E também temia que caso esperasse mais alguns segundos não teria coragem de excluir definitivamente o passado de sua vida.
Fechou o monitor e o colocou cuidadosamente em cima da cômoda de marfim. Quando seu esposo lhe perguntou se estava tudo bem, apenas respondeu com a voz embargada: "Tudo, meu amor. Boa noite". Naquele dia teve muitos sonhos, dos quais nunca mais se lembrou.

Um comentário:

  1. maaaaaaaaas... o q era o tal e-mail, quem tinha oo escrito? um ex caso? sobr eo q era??? aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah...
    fiquei na curiosidade =(

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