13 outubro 2009

Porque a comunicação de massa é uma ilusão

Calma. Você não vai ler mais um artigo previsível e enfadonho sobre a comunicação. Sobre isso já escreveram muito. Não que não haja mais o que falar, sempre irão arranjar um motivo. Ou copiarão o que já foi dito, inserindo umas referências aqui e ali, fingindo ser um pensamento inovador. É natural. Faz parte da lógica das coisas. Não significa que seja algo ruim, mas, devo confessar, uma hora enjoa. É por isso que, entre duas leituras acadêmicas, eu insiro um Machado, um Saramago ou até um “Marley”. Ajuda a acalmar um pouco os neurônios.
Seja como for, faz bem conhecer. É aquela velha história; quanto mais conhecermos o território inimigo, melhor preparados estaremos. Peço calma mais uma vez, não pretendo chamar, aqui, a comunicação de massa de inimiga. Apenas entendo que, quanto mais estivermos próximos daquilo que nos chega todo dia (e vai chegar, quer você queira, quer não), melhor enfrentaremos as constantes mentiras. Pensando por outro ângulo, mentira é uma palavra tão pesada quanto “inimigo”, chamaremos, aqui, de ilusão. Aliás, é justamente o olhar de um novo ângulo que permite desvendar o mistério da ilusão.
Mas, o que quero dizer com isso?
Você perguntaria, com toda a razão, o que ângulo teria a ver com ilusão? Afinal, existe alguma relação lógica entre algo matemático e um conceito que se aproxima mais da metafísica? E, o que é ainda mais intrigante, o que tudo isso tem a ver com comunicação?
Deixe-me explicar o raciocínio.
Conhecer a forma como as coisas se dão e ter contato direto e constante com os meios de comunicação torna perceptível algo difícil de lidar: tudo é uma questão de perspectiva. Em outras palavras, tudo depende do ângulo que a situação é evidenciada. Apesar de óbvia, esta afirmação é negligenciada. Não por falta de interessa, mas simplesmente porque as pessoas não param para pensar nisso. Recebemos tantas informações todos os dias e a uma velocidade tão incrível, que fica difícil parar para pensar nisso. Além do mais, quando vemos uma novela, ou lemos uma revista, estamos buscando, de uma forma ou de outra, certo entretenimento, um escape do mundo real. Vamos a um teste. Pense, por exemplo, na sua série favorita. Quando a assiste, você pensa, a todo segundo, na mensagem que está sendo passada? Não. Mas deveria.
Vamos inserir a ilusão nessa mistura.
Todo e qualquer fato transmitido pelos meios de massa serão focados em um único ângulo. Fato. Essa sua série preferida mostra apenas um lado de algumas situações. O que é ótimo. Imagine se decidissem mostrar, ao mesmo tempo, o trabalho que aquela médica faz no consultório, o filho dela que está na escola, sua mãe alimentando o cachorro, seu pai lendo o jornal, sua amiga magoada após uma briga com o namorado, e, finalmente, ela, em meio a tudo isso. Seria tedioso, não? E, mais, cada capítulo do seu seriado teria, pelo menos, umas cinco horas de duração. Agora pense, seres humanos são assim. Guardamos dentro de um único corpo e uma única mente desejos, aflições e sensações das mais diversificadas. A médica, do seriado, é apenas uma personagem, cumprindo o papel de levar entretenimento a você. Mais uma vez, estamos diante de uma conclusão óbvia. Então me responda: por que, mesmo sabendo disso, você se deixa influenciar por ela?
Quem nunca desejou o carro daquele cara rico do filme? Quem nunca sonhou com um ator ou atriz? Quem nunca pediu um corte de cabelo porque estava sendo usado na novela? Quem nunca teve qualquer espécie de desejo baseado no que viu ou leu na mídia? Somos coagidos, todos os dias, a pensar a vida como se fosse algo homogêneo, visto por certo ângulo, imutável. Buscamos o príncipe encantado, generoso, fiel e gentil, como o é o homem da novela. Queremos ser o ator ou a atriz que acordam maquiados, os modelos que não tem marcas pelo corpo. Mas, não queremos aceitar que pessoas reais não são sempre boas ou más, que a beleza física é apenas a forma visível de dolorosos tratamentos estéticos.
Que gloriosa é a vida na comunicação de massa! Pena ser pura ilusão.
Não julguemos os donos das redes de televisão, os editores das revistas, os assessores de imprensa. Cada um faz seu trabalho. Assim segue a indústria da comunicação. Não sejamos negativos como Adorno, ou desiludidos como Baudrillard. Basta cuidarmos apenas de nós mesmos, tomando cuidado para não transformar a vida em um imenso conto de fadas. A propósito, vale lembrar que até eles, destinados às inocentes criancinhas, mostram apenas um ponto de vista sobre a “realidade”.

Um comentário:

  1. Acho a comunicação de massa extremamente pobre. Pobre porque se foca apenas na finalidade e não nos meios. É tão disfarçada que chega a ser explícita. É tão mentirosa, que chega a ser sincera. É tão indireta, que chega a ser objetiva.

    Os mentores das campanhas publicitárias de massa, embora ainda sejam eficazes, parece que ainda não perceberam que estamos vivendo, como nunca na história da humanidade, a Era da Individualidade.

    O acesso praticamente irrestrito a toda e qualquer informação,ao mesmo tempo que tentou estabelecer padrões, despertou nas pessoas conhecimento.

    Acho que está chegando próximo o tempo em que os publicitários serão enganados pela massa, onde as grandes cabeças da sociedade não estarão nos ambientes acadêmicos e os grandes profissionais não estarão nas empresas ou entre os CPF's de uma Folha de Pagamento.

    Achei o texto muito bom. Parabéns.

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